domingo, 4 de dezembro de 2011

Recém-descoberta, mas já ameaçada

Descoberta recentemente, a Symplocos atlântica ganhou o apelido de azeitoninha-das-nuvens por causa de seus frutos pretos, no formato de azeitonas, e sua localização, na floresta nebular. Esse tipo de vegetação, também conhecida como mata de neblina, cresce nas alturas da mata atlântica ou em outros biomas. Na porção da Serra do Mar onde vive a azeitoninha, essa formação ocorre a partir de 1.100 metros acima do nível do mar e apresenta constante condensação de umidade, baixas temperaturas e ventos frequentes.
Com o avanço do aquecimento global, entretanto, as altas temperaturas podem ameaçar toda a floresta nebular, e a azeitoninha-das-nuvens, que acaba de ser identificada, pode entrar na lista de espécies vegetais ameaçadas de extinção.
O biólogo Ricardo Bertoncello, que pesquisou sobre a floresta nebular em seu mestrado na Universidade Estadual de Campinas, publicou a descrição da espécie junto com o biólogo João Aranha Filho no Harvard Papers in Botany. Ele conta que a sua ocorrência se restringe a topos de morros e que, por enquanto, ela só foi encontrada na Serra do Mar, na divisa entre Paraty (RJ) e Ubatuba (SP).

Cinturão de nuvens pode subir com aquecimento

Caracterizada por sua baixa estatura (altura máxima de nove metros), ramos bastante retorcidos, folhas grossas, flores brancas e pequenas, além dos frutos carnosos, a espécie não resistiria longe de seu hábitat.
“Estudos recentes indicam que o aumento na média da temperatura global acarretaria uma elevação do cinturão de nuvens e o aumento da evapotranspiração, levando a uma dupla perturbação no ambiente”, afirma Bertoncello.
Nesse contexto, muitas espécies de topo de morro estariam ameaçadas, “podendo ocorrer perda de biodiversidade, invasão de espécies de altitudes menores e possível desaparecimento das florestas nebulares”.

A espécie cresce na floresta nebular da Serra do Mar, a mais de 1.100 metros de altitude (foto: Thayná J. Mello)

O biólogo lembra que não se pode ter certeza de que o aquecimento global esteja diretamente relacionado à ação do homem, “uma vez que existem variações naturais de temperatura ao longo da história do planeta que determinaram em grande parte a distribuição atual das espécies, além de processos naturais de extinção e especiação”.
Ainda assim, é preciso tomar precauções: “Acredito que a redução da emissão dos gases relacionados ao efeito estufa seja crucial no momento como medida de precaução, além da propagação e manutenção de vários indivíduos da espécie em casas de vegetação climatizada”, propõe Bertoncello.

Terapia de choque para deficiência matemática

Imagine como seria se você pudesse desenvolver uma habilidade sem fazer qualquer esforço. Para isso, bastaria se submeter a algumas sessões de choque no cérebro. Pode parecer ficção científica, mas não é. Cientistas britânicos aperfeiçoaram o desempenho matemático de 15 pessoas ao aplicar em uma região específica de seus cérebros uma corrente elétrica fraca e constante. A pesquisa foi publicada esta semana na versão on-line da revista Current Biology.
Ao longo de seis dias, os voluntários – estudantes universitários com idades entre 20 e 22 anos – passaram por seis sessões de choque, cada uma com duas horas de duração. A estimulação transcraniana por corrente contínua – nome da técnica usada – foi combinada ao ensino de uma série de símbolos que os participantes nunca tinham visto e que representavam números.
Ao fim do procedimento, os voluntários conseguiram relacionar os símbolos aos números verdadeiros e ordená-los de forma linear e crescente. A evolução da habilidade numérica do grupo foi comprovada por um método padrão usado para avaliação de competência. Segundo os pesquisadores, o efeito durou seis meses.
"Não estou aconselhando que as pessoas saiam por aí levando choques elétricos, mas estamos extremamente animados com o potencial de nossos resultados", pondera um dos autores do artigo, Roi Cohen Kadosh, da Universidade de Oxford (Inglaterra), em comunicado à imprensa.

Técnica segura e não invasiva

A técnica foi aplicada ao lobo parietal dos voluntários, uma área cerebral fundamental para a compreensão numérica. Os cientistas garantem que o procedimento não afeta outras funções cognitivas do cérebro, por se tratar de uma estimulação não invasiva e estudada há mais de dez anos.
A equipe já havia usado outro método de estimulação cerebral para induzir temporariamente a discalculia, uma desordem neurológica que afeta a compreensão numérica. "Agora descobrimos que a corrente também pode ser capaz de tornar alguém melhor em matemática”, afirma Kadosh.
Segundo os pesquisadores, cerca de 20% da população mundial apresentam alguma deficiência matemática ou tiveram sua habilidade prejudicada em decorrência de doenças degenerativas ou derrames.
Kadosh destaca que a falta de habilidade matemática é frequentemente associada ao desemprego, baixa renda, depressão e baixa auto-estima. “Pessoas com grave deficiência numérica muitas vezes não conseguem gerenciar tarefas básicas, como entender os rótulos dos alimentos”, diz. “A estimulação elétrica não transforma as pessoas em Albert Einstein, mas pode ser capaz de ajudá-las a lidar melhor com a matemática”, avalia.

Stonehenge brasileiro

O sítio arqueológico da cidade de Calçoene, no interior do Amapá, pode ter sido um grande calendário solar construído por civilizações antigas há mais de mil anos. A afirmação é do físico Marcomede Rangel, do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, que vem estudando o local. Descoberto pelo naturalista Emilio Goeldi (1859-1917) no início do século passado, o sítio abriga pedras monolíticas estrategicamente posicionadas no solo.
Com ajuda de estudantes do curso de turismo do Centro de Educação Profissional do Amapá (Cepa), o físico mapeou o local e descobriu uma relação entre o sítio e o fenômeno natural do equinócio. “Uma das pedras é uma chapa de granito de 3 m com uma abertura no centro com cerca de um palmo de diâmetro. Há outra pedra direcionada justamente em relação a essa. Provavelmente, o sítio era usado pelos povos antigos para saber a época de plantio, colheita, chuva e seca”, diz.
O equinócio acontece quando o Sol, visto da Terra, se desloca sobre a linha do Equador, nascendo a leste e se pondo a oeste. Essa passagem de um hemisfério a outro determina o início das estações primavera e outono, conforme o hemisfério. Durante o fenômeno, o dia e a noite têm a mesma duração.
Sítio arqueológico em Calçoene, Amapá
Para Marcomede, os monumentos encontrados em Calçoene – comparáveis a Stonehenge, na Inglaterra, o mais conhecido círculo de pedras do mundo –, podem ter sido formas de homenagem aos deuses pagãos ou mesmo observatórios primitivos. “Já conseguimos saber que a luz do Sol é projetada pela abertura de uma das pedras, criando uma bola de luz, que vai bater em outra pedra. A bola de luz se desloca seguindo a linha do Equador”, conta o pesquisador.
O sítio de Calçoene ficou no esquecimento durante muito tempo. Somente em 2005, o ‘Stonehenge brasileiro’ despertou o interesse do governo do Amapá, quando foi catalogado e cercado, sendo estudado por arqueólogos do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa).
Pesquisas apontaram uma relação das construções com o solstício de inverno, momento em que o Sol está mais afastado do Equador, em cima do trópico de Capricórnio. Marcomede espera encontrar novos elos entre o sítio e fenômenos astronômicos: “Com os dados obtidos, confeccionaremos um mapa das constelações para encontrar outras relações com estrelas brilhantes e a Lua”, finaliza o físico.

A outra face da química

Na largada do Ano Internacional da Química, um cientista lembra que o mau uso de suas descobertas teve consequências fatais. O químico David Nichols, da Universidade Purdue (EUA), estudou a composição e a sintetização de remédios, para fins medicinais,  durante 40 anos.
Um grupo de químicos amadores liderado pelo escocês David Llewellyn usou as informações dessas pesquisas publicadas para desenvolver drogas legais.
Nichols tomou uma atitude que raramente é vista entre os membros da comunidade científica. Por meio de um artigo publicado na última edição da revista Nature, abriu o jogo sobre o caso e demonstrou toda a sua preocupação em relação aos rumos dos resultados das pesquisas científicas.
“Fiquei aturdido. Tenho publicado informações que causaram a morte humana”, lamenta o químico no artigo.

Tratamento para doenças

A intenção de Nichols era desenvolver substâncias que ajudassem no tratamento do mal de Parkinson e da esquizofrenia. Ele também estudou agentes psicodélicos como o LSD e publicou artigos sobre as propriedades psicoativas de suas moléculas.
Outro composto pesquisado foi o MTA (metiltioanfetamina), de estrutura similar a do ecstasy. O propósito era desvendar sua ação sobre o cérebro em busca de tratamentos para a depressão.
A partir das informações publicadas sobre as pesquisas de Nichols, químicos amadores sintetizaram as substâncias em cápsulas sem a realização de qualquer tipo de teste de segurança.
Depois de manufaturadas, as drogas foram vendidas legalmente com um duvidoso aviso de que não deveriam ser consumidas por humanos. No entanto, em 2002, seis pessoas morreram em decorrência do uso dessas substâncias.
Como os compostos foram descobertos recentemente, ainda não há uma legislação em vigor para banir o uso dessas moléculas. Químicos amadores como o escocês David Llewellyn aproveitam essa zona cinzenta do período em que a droga ainda não foi proibida para lucrar com as substâncias.
Os usuários, no entanto, vêm pagando com a própria vida com o uso dessas drogas (até agora) legais.
“Essa questão, que nunca fez parte da minha pesquisa, agora me assombra”, diz David Nichols.

Pés Climatizados

Um calçado que proporciona conforto térmico aos pés, mantendo-os aquecidos ou refrigerados, conforme a necessidade. Essa foi a ideia de Vinicius Lopes e Frederico Liboni, estudantes do curso técnico em eletroeletrônica do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), na escola Márcio Bagueira Leal, em Franca (SP).
Ativado por pilhas recarregáveis e feito com materiais à prova d’água, o calçado foi planejado para proporcionar bem-estar a uma área do corpo que nem sempre recebe os cuidados necessários, e também como um aliado para os diabéticos.
O nível elevado de açúcar no sangue pode prejudicar a circulação nos pés dos diabéticos, deixando-os frios e inchados, além de diminuir a sensibilidade no local.
O calçado desenvolvido pelos alunos, com orientação de Alberto Lima, pode proporcionar variação entre 29ºC e 35ºC, temperatura considerada confortável.
Para isso, é utilizada uma pastilha de cerâmica que, quando alimentada por uma corrente elétrica, tem uma face aquecida e outra resfriada. A partir da inversão da corrente, as temperaturas também se invertem – fenômeno conhecido como efeito Peltier.

Botão invisível

As três pilhas necessárias para o funcionamento têm durabilidade de até 10 horas e podem ser recarregadas. Para regular a temperatura, basta acionar um botão abaixo da palmilha: “Assim não fica visível, mas também não atrapalha na hora de pisar”, diz Lopes.

Os pés também ficam protegidos nos dias chuvosos, já que os calçados são feitos de neoprene e lycra, materiais impermeáveis.
Agora, os estudantes pretendem atrair o interesse de algum empresário para introduzir o produto no mercado: “O calçado pode ser exportado para atletas que praticam esportes na neve e também ser usado por turistas em lugares muito frios ou muito quentes”.

Natureza Pop

Já é outubro: o Ano Internacional da Biodiversidade está na reta final. Com essa iniciativa, a Organização das Nações Unidas (ONU) queria conscientizar quem ainda não percebeu que a espécie humana continua crescendo enquanto muitas outras beiram a extinção.
A publicidade ouviu o apelo e lançou campanhas que enfatizam a natureza. O último exemplo é a série de anúncios da marca de tintas Pacific Paint, que pode ser conferida na página do Coloribus, grande arquivo on-line de anúncios de todo o mundo.
Além da água-viva da imagem que abre este post, um louva-a-deus, um caracol e cinco flores coloridas compõem a série de anúncios das tintas produzidas pela Boysen, líder do segmento no mercado das Filipinas.
Os anúncios chamam a atenção pela sensação de movimento e pela intensidade das cores.
Obra da agência filipina TBWA/Santiago, eles foram lançados em setembro e circulam em revistas e jornais daquele país.